Manoel de Barros é daqueles poetas que fazem o coração dos amantes dos prazeres do nada vibrar. Se você ama poesia, ama natureza e ama as inutilezas da vida vai se identificar com certeza. Se você é daqueles que precisa do ócio criativo, que contemplar o belo é sua maior alegria e que adora ver o mundo por outra perspectiva, leia Manoel de Barros. Mas se você é daqueles que necessita dar uma desacelerada, ir mais devagar e curtir o caminho sem se preocupar com o rumo, uma dose de Manoel por dia vai te fazer bem. E vou logo avisando, esse poeta não gosta de dar significados as coisas que vê, o lance dele é desver, é ressignificar. Pois a imaginação dele é fértil e livre. Nas palavras dele encontram-se travessuras, desconcertos e absurdos. A visão dele é um ato poético do olhar. Um olhar de criança que cresceu, mas o menino dentro dele não, que cresceu no mato e o mato cresceu dentro dele.
Ele nasceu em Cuiabá, Mato Grosso no ano de 1916 e quase teria feito cem anos se não tivesse tido vontade de agarrar na bunda do vento e ir embora em 2014. No entanto, o bacana de quem cria é que continua vivo na sua criação, mesmo depois que morre. E podemos visitar e revisitar esse menino Manuelzinho em sua obra, com um saber primordial que nos pergunta: Visão é recurso da imaginação para dar às palavras novas liberdades? Acho que sim. Mas como ele, tenho o privilégio de não saber quase tudo. Apenas imagino que a criança, menino ou menina (mesmo depois de grandes), possui uma forma diferenciada de olhar o mundo. Uma visão de encantamento que usa todos os sentidos para apreender o que está em volta só pelo prazer de viver, de sentir.
Nas palavras do poeta:
É a voz de Deus que habita nas crianças, nos passarinhos e nos tontos. A infância da palavra.
Eu só não queria significar. Porque significar limita a imaginação.
O Pai achava que a gente queria desver o mundo para encontrar nas palavras novas coisas de ver.
A gente gostava das palavras quando elas perturbam o sentido normal das ideias.
Porque a gente também sabia que só os absurdos enriquecem a poesia.
Nosso conhecimento não era de estudar em livros. Era de pegar de apalpar de ouvir e de outros sentidos.
A pergunta do filósofo:
Seria um saber primordial?
Pra nos fazer pensar…
Texto Glaucione de Laet
Fotografia: Autor desconhecido que clicou um poeta enternecido
Que delícia de texto. Como a liberdade incomoda. As pessoas precisam estar presas para se sentirem seguras. Presas a qualquer coisa, mesmo na dor. como na música de Zélia Ducam
Carne e osso
A alegria do pecado
Às vezes toma conta de mim
E é tão bom não ser divina
Me cobrir de humanidade me fascina
E me aproxima do céu
E eu gosto
De estar na terra
Cada vez mais
Minha boca se abre e espera
O direito ainda que profano
Do mundo ser sempre mais humano
Perfeição demais
Me agita os instintos
Quem se diz muito perfeito
Na certa encontrou um jeito insosso
Pra não ser de carne e osso
Pra não ser…
Olha que contraditório. O ser humano é uma confusão……………
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Com certeza Tânia. Somos todos imperfeitos! Somos todos.
Um abraço!
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